Itaú-Unicef premia projetos de educação; Bahia foi finalista em três categorias

Três projetos educacionais representaram a Bahia na final regional da 12ª edição do Prêmio Itaú-Unicef, ocorrida na noite de terça-feira (14), em Recife (PE). As ações, desenvolvidas em escolas de Ibotirama, Salvador e Seabra, não chegaram a vencer em suas respectivas categorias, mas foram contempladas com R$ 10 mil pela classificação à final nordestina.

O prêmio Itaú-Unicef – que existe desde 1995, e já recebeu mais de 17 mil inscrições, premiando iniciativas em 1.752 cidades – tem como objetivo reconhecer e estimular parcerias entre Organizações da Sociedade Civil (OSC) e escolas públicas no desenvolvimento de ações socioeducativas que ampliem tempos, espaços e conteúdos de aprendizagem para crianças e adolescentes na faixa etária dos 6 aos 18 anos.

Nesta fase, foram reconhecidas 32 parcerias, selecionadas entre as 96 finalistas divulgadas na etapa anterior. Em cada regional foram premiadas quatro parcerias, de acordo com o porte orçamentário das organizações – micro, pequeno, médio e grande.

Mãos dadas
O primeiro projeto baiano a disputar a preferência dos avaliadores do prêmio foi o Conexão Mãos Dadas, da zona rural de Ibotirama, cidade no Vale do São Francisco. A ação, classificada como micro porte, é voltada para a educação, em diversas frentes, de alunos da escola municipal Castro Alves, que tem parceria com a Associação Beneficente Comunidade de Mãos Dadas, no bairro de Alto do Fundão.

“Lá a gente desenvolve muitas atividades, voltadas para os alunos e para toda a comunidade. Temos programa de inclusão digital, aulas de jiu-jitsu, caratê, incentivo à leitura, entre outros. Temos também atividades para os pais dos alunos, como oficinas de vassouras para mães desempregadas, ciranda de contos para um grupo da terceira idade, então, é muito abrangente”, conta Consuelda Oliveira, diretora da associação.

 

Mesmo sem prêmio, Gerzia e Consuelda acreditam que indicação à final é reconhecimento de bom trabalho feito em Ibotirama (Foto: Reprodução)

Segundo a diretora da escola, Gerzia Araújo Silva, a heterogeneidade é uma forma de lidar com as carências observadas na região onde a escola fica. “Vamos criando os projetos de acordo com a necessidade das comunidades do entorno”, explica ela, que apesar de não ter conseguido ir para a etapa nacional, e levado para o projeto mais R$ 20 mil, acredita que, do encontro em Recife com outros sócio-educadores, deu para tirar proveito. “O mais importante é essa troca de experiência, conhecer outras realidades”, comentou.

O projeto vencedor da categoria veio da cidade de Major Sales, no Rio Grande do Norte, chamado Circulando a Cultura na Escola.

Escola, berço de artistas
O segundo projeto baiano na final, agora na categoria pequeno porte, foi o Ser Tão Cênico: o Artista Nasce na Escola, desenvolvido na escola municipal de 1º Grau de Lagoa da Boa Vista, em Seabra, região da Chapada Diamantina. A ação é desenvolvida em parceria com a Associação Comunitária Grupo Cultural Lamparinas do Sertão, e assim como no caso do Mãos Dadas, atende a centenas de estudantes, familiares e vizinhos da unidade.

Com foco no teatro e no incentivo à leitura, promovido através de oficinas, o projeto atende, principalmente, a crianças entre 8 e 12 anos.
Segundo os responsáveis pelo Ser Tão Cênico, as oficinas são pensadas, planejadas e aplicadas com o objetivo de desenvolver a criatividade da criançada. Para isso, mergulham em todos os estágios da produção teatral. A turma aprende técnicas de pintura e maquiagem, confecção de máscaras, desenho e confecção cenário e figurino, criação coletiva e encenação de textos teatrais.

O vencedor na categoria pequeno porte foi o projeto Promovendo Vivências de Cidadania, do município de Itapiúna, interior do Ceará.

Aquele frevo axé
Na capital pernambucana, também concorreu entre os finalistas um projeto consagrado, desenvolvido em Salvador há 27 anos. É o Projeto Axé, que levou o legado e a torcida de 80 estudantes da Escola Municipal Vivaldo da Costa Lima, no Centro Histórico, diretamente beneficiados pelo projeto, considerado de médio porte.

“Foi uma festa geral dos alunos (quando souberam da indicação). É o primeiro ano que nós conseguimos chegar a finalista”, contou a diretora Joseane da Fé Copque, há 11 anos no comando da escola. “Nós temos essa parceria com o Projeto Axé desde 2007, há dez anos, e é um reconhecimento de um trabalho”, comentou ela.

A assistente da coordenação de Arteducação do Projeto Axé, Ângela Gonçalves, acredita que a indicação ao prêmio é um reconhecimento dos esforços feitos para transformar a vidade de centenas de jovens carentes. “Nós temos um trabalho de educação de rua, que tem um trabalho de atrair os meninos e  meninas, para poder fazer com que eles demonstrem o desejo de estar fora da rua, de construir um projeto de vida. E a escola é um referencial importantíssimo, para que ele tenha um futuro”, comentou. “(A indicação) é uma chancela. Na Bahia, concorreram 98 projetos e três chegaram aqui, então nós temos orgulho”, completou Ângela. A Bahia foi o estado com mais projetos inscritos na regional Nordeste, seguido de Ceará e Pernambuco.

Para a diretora Joseane, apesar de não ter ido para a final nacional, os resultados que a parceria tem obtido, nos últimos anos, compensa qualquer coisa.

“Os frutos são visíveis. A evasão diminuiu bastante. A maioria dos alunos do projeto, posso assegurar, tem quase 100% de frequência. Nós conseguimos que a criança desenvolvesse o gosto pela educação”, afirma ela.

O vencedor da categoria foi Cordeletrando – Educar, Rimar e Transformar, desenvolvido em Campos Sales, no Ceará. Já o projeto Juventude Comunica Direitos, também do Ceará, mas de Fortaleza, levou os R$ 20 mil (cada) na categoria grande porte.

Mais expectativa
Para a coordenadora de Fomento da Fundação Itaú Social, Camila Feldberg, o encerramento das etapas regionais, ocorrido na capital pernambucana, já dão uma ideia de como o prêmio tem ajudado a incentivar práticas cada vez mais criativas e transformadoras.

“São iniciativas que estão espalhadas pelos mais diversos cantos do país. O prêmio tem uma entrada inclusive em municípios muito pequenos e quando a gente conhece as organizações, isso nos inspira a continuar e cada vez mais contribuir para que essas iniciativas ser mais relevantes”, afirma ela, ao ser perguntada sobre a possibilidade de ampliação do prêmio.

Pelo método escolhido pelo Itaú-Unicef, as organizações concorrem dentro de suas regionais com outras do mesmo perfil orçamentário. Como finalistas da etapa anterior, OSC e escola receberam R$ 10 mil cada uma. Agora, como regionais premiadas recebem mais R$ 20 mil cada.

A premiação nacional será no 11 de dezembro, no auditório Ibirapuera, em São Paulo, quando serão anunciadas as quatro parcerias premiadas nacionais (uma de cada porte orçamentário) e OSC e escola receberão mais R$ 100 mil cada uma. O prêmio total para cada instituição reconhecida na última etapa somará R$ 130 mil.

“Esses são momentos importantes, que a gente aprofunda na avaliação dessas premiadas regionais. Elas vão receber visitas técnicas e passarão por uma análise mais aprofundada, mas a gente já conclui que são muitas iniciativas, muito relevantes, e que garantem direitos nos locais onde elas acontecem”, completa Camila Feldberg.

O Prêmio
O Prêmio Itaú-Unicef é uma iniciativa da Fundação Itaú Social e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), com coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). Este ano, tem como mote “Educação Integral: Parcerias em Construção”.

“O Prêmio ajuda a fortalecer organizações que transformam o território onde atuam e a vida de milhares de crianças e adolescentes em todas as regiões do País. Elas ampliam as oportunidades e contribuem para garantir o direito de aprender de algumas das crianças que mais precisam”, afirma a representante do Unicef no Brasil, Florence Bauer.

Ao se inscrever, a OSC indica a escola com a qual trabalha e as ações socioeducativas que desenvolvem conjuntamente. As avaliações consideram o mérito das ações desenvolvidas e os aspectos de gestão para a sua sustentabilidade.

Os projetos inscritos passaram por análise preliminar e foram divididos em oito regionais: Belém (que inclui os estados da região Norte), Belo Horizonte (estado de Minas Gerais), Curitiba (estados do Sul), Goiânia (estados do Centro-Oeste e Distrito Federal), Recife (estados do Nordeste), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro e Espírito Santo), Ribeirão Preto (interior do estado de São Paulo) e São Paulo (região metropolitana e litoral de São Paulo).

Nesta edição, o Prêmio Itaú-Unicef recebeu 1.651 inscrições de todos os estados do país. “A diversidade e relevância das parcerias inscritas no Prêmio revelam projetos fundamentais para garantir o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. Elas são muito inspiradoras para do trabalho conjunto entre escolas e organizações”, avalou a superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), Mônica Franco.

Fonte: Correio da Bahia

João Gabriel Galdea*
joao.gabriel@redebahia.com.br

*O jornalista viajou para Recife a convite da organização do evento.